Não acontece só aos outros.

Aos 27 anos, Marta é aquilo a que se pode chamar uma mulher de sucesso: licenciada em Psicologia, com uma carreira promissora na recuperação de jovens deficientes, casada, feliz e mãe de dois filhos menores, descobriu que era seropositiva há menos de um ano, quando foi doar sangue a uma familiar que ia ser operado. ''Nem queria acreditar quando rejeitaram o meu sanguee me enviaram a carta para casa... Ia morrendo! Sempre acreditei que isto só acontecia aos outros!'' Enganou-se. Afinal os ''outros'' são todas as pessoas que têm relações desprotegidas sem nunca pensarem que, racionalmente, ao irem para a cama com aquela pessoa estão também a 'deitar-se' com toda a sua vida sexual, a qual, na maior parte das vezes, desconhecem. Marte sempre teve relações desprotegidas com o homem que consquistou o seu coração quando tinha apenas 16 anos. Primeiro, como namorado, depois, como marido e, por fim, como pai dos seus filhos ( Maria, de 4 anos, e Pedro, de de apenas 9 meses). '' Eu quis acreditar que fui a única mulher da vida do meu marido. Acho que não dei importância ao facto de ele já ter ido para a cama com meia Lisboa antes de me conhecer!'' reconhece, arrependida. Entretanto, Marta descobriu que estava grávida do segundo filho e a sua história complicou-se: ''Confrontei o meu marido, mas ele disse-me que tinha feito teeste quando me conhceu. A verdade é que agora já não éramos só eu e ele. Era o nosso filho Pedro que corria riscos de ser infetado!''.

Chegou a pensar em fazer um aborto, mas os médicos conseguiram convênce-la de que, se seguisse todos os conselhos deles, a hipótese de ter um filho seropositivo era menor que 2%. Teresa Branco, médica da unidade de Infecciologia do Hospital Amadora-Sintra, confirma: '' A TAXA DE CONTÁGIO VERTICAL, DE MÃO PARA FILHO, É MUITO BAIXA, QUASE INSIGNIFICANTE. SÃO SOBRETUDO CASOS DE GRAVIDEZES QUE NOS CHEGAM TARDE DEMAIS E NUNCA FORAM VIGIADAS OU CASOS DE MULHERES CONTAGIADAS DURANTE A GRAVIDEZ!''

Marta viveu os nove meses numa angústia permanente, teve o filho por cesariana para evitar contágios e só seis meses mais tarde, depois de testes e contratestes, é que teve a certeza de que Pedro era seronegativo.'' Hoje, sobrevivemos com um grande segredo: só eu e o meu marido sabemos da doença, nem a minha família sabe. A ignorâncio e o medo da doença conduzem à discriminação. Quando algum dos deficientes com quem trabalho se cortaouço logo as minhas colegas dizerem que têm medo de lhe tocar porque pode ter sida, imagine se elas soubessem que eu, a sua chefe, sou seropositiva!'', afirma, voltando a enfatizar que dá esta entrevista com a condição de ocultarmos a sua verdadeira identidade.

Hoje, continua casada com o homem que a infetou, mas não arrisca relações desprotegidas. '' Eu sei que somos ambos seropostivos, mas também sei que o vírus está sempre a mudar e que há o perigo real de nos reinfectarmos com novos vírus, o que poderia ser, tanto para ele, marido, como para mim, fatal. Na cama, continuamos a fazer tudo o que fazíamos antes, só que agora é sempre com preservativo.''

in revista woman (abril 2011)